11 novembro 2011

Sinfonia do Horror

o estertorar dos estômagos famintos
aquele gemido baixo da fome
a lágrima que escorre muda
entre o choro abafado dos desesperados
os litros de sangue derramados
entre os tiroteios dos campos de batalha
os corpos despedaçados pelas granadas
uma bala estourando uma cabeça
as vísceras espalhadas por entre o pó da terra
um dois três quatro cinco seis
sete oito nove dez
soldados fuzilados de uma só vez
os urros dos tigres sendo massacrados
a queda dos  milhões de bisões
exterminados nos Estados Unidos
o roçar das folhas de toda uma floresta ao chão
o arder das queimadas por entre as árvores
os gritos dos que morrem queimados
as bombas atômicas sobre o solo japonês
as mentiras proferidas nos plenários
nas tribunas nos púlpitos nos congressos
o amargo protesto inútil dos injustiçados
o revólver disparado a queima-roupa
a mulher espancada no rosto e nos seios
a pele sendo retirada de gatos e cachorros vivos
a água negra e podre pelo leito do rio Tietê
os olhos dos coelhos sendo perfurados
para o necessário progresso da ciência
os pesticidas vaporizados pelos campos
o canto de uma ave com câncer na garganta
o desabar de prédios explodidos
um ataque aéreo sobre as selvas do Vietnã
uma criança sendo estuprada
os suspiros de quem está só
e até o silêncio desolado
das regiões que viraram deserto...

todas essas coisas
produzem o seu próprio som
e não cessam
de atormentar a minha audição
quando me recordo
que definitivamente nunca
a humanidade aprenderá a lição...

09 novembro 2011

Sarcástico

...nada
é o Tudo que o Todo nos dá
quando a garganta é ao máximo erguida
e a esperança é ao extremo elevada:
se suplicares alto demais
deixarás os anjos surdos
e o próprio ato de pedires
é um absurdo entre só absurdos

quando se pensa a vida
como já arquitetada
o sonho se torna caduco
e caem-lhe os dentes da boca
e toda essa grave promessa da sorte...
haha! a promessa é uma panela oca
trazida nas mãos debochadas da morte

o Sol que se levanta todas as manhãs
traz sim o seu sorriso
implacavelmente sarcástico
e o seu amor pela Desilusão
já se tornou um caso clássico...

pega um pouco de água
daquela poça podre da estrada:
terás que fazer uma sopa
com as letras já duras e secas
da felicidade
imagi...
nada...

08 novembro 2011

Dirigir embriagado é crime. Tudo bem. Mas por que não tornam mais rígidas também as Leis Ambientais?

Querem endurecer as leis, dizem, de proteção à vida. Por isso, aprovaram a Lei do Desarmamento. Eu fui contra. Para mim, não mudaria nada. E a prova está aí. Mudou alguma coisa com relação à violência? O Brasil nunca esteve tão violento. Agora, é considerado crime dirigir embriagado. Certo, tudo bem, não sou a favor da pessoa beber e dirigir, principalmente se a pessoa for viajar. Beber antes de viajar é um absurdo. O problema é que há muitos exageros e pontos controversos nessa lei. E, quase sempre, como tudo no Brasil, são os pobres os que mais pagam. Os filhinhos de papai pagam bons advogados e, geralmente, livram-se das penas.

Mas o que quero falar, aliás, repetir o que já disse aqui, é: Por que não tornam mais rígidas também as Leis Ambientais? Se querem tanto defender a vida... Eu não entendo. E fizeram pior, eles amoleceram as leis ambientais. O Novo Código Florestal não passa de um afrouxamento vergonhoso das leis que protegem a nossa fauna, a nossa flora, a nossa terra. Leis de Trânsito mais duras, Leis Ambientais mais brandas. Querem defender a vida... Ou será que querem defender o bolso? Arrecadar mais com multas de trânsito, e poder explorar e destruir o meio-ambiente com a liberdade (libertinagem) que sempre fizeram. 

Uma pessoa que carrega uma arma que ganhou de herança ou alguém que dirige na cidade com o índice de álcool no sangue levemente acima do permitido pode ser preso. Ok. Agora, um criminoso que devasta quilômetros e quilômetros de floresta virgem, acabando com centenas, milhares de animais, empresas que poluem descaradamente nossos rios, imbecis que infestam de agrotóxicos nossas terras, os cafajestes traficantes de animais, enfim, toda essa corja de destruidores do planeta, quais as penas que sofrem? Pagam uma multinha, quando pagam, e continuam destruindo. Segundo pesquisas do IBAMA, em  mais de 80% dos crimes ambientais, as multas nem chegam a ser pagas. E em mais de 90% dos crimes ambientais passíveis de prisão, os criminosos ou nem chegam a ser presos ou têm a pena comutada e acabam livres. E querem defender a vida...

A legislação ambiental vigente prevê de seis meses a um ano de prisão para quem transporta espécimes da fauna silvestre sem permissão, mas a mesma regra diz, em seu artigo 7º, que o criminoso só ficará detido se for condenado a mais de quatro anos de encarceramento, o que não acontece ainda que a maior pena seja aplicada.


Estão vendo, meus amigos? De 6 meses a 1 ano para quem trafica animais. E a pessoa nunca vai presa. Mas se os senhores forem em um churrasco entre amigos, tomarem duas garrafas de cerveja e vierem dirigindo para casa, coisa que todo mundo faz ou já fez, se houver uma blitz da polícia, os senhores podem pegar até 3 anos de cadeia. 

Lembram daquela empresa de Passo Fundo que jogou toneladas de veneno no Rio dos Sinos, matando toneladas e toneladas de peixes? Ninguém lembra mais, não é mesmo? Pois é, os responsáveis estão em liberdade. E    por aí vai. Há milhares de casos como esse no nosso país. Mas querem defender a vida...


Enquanto isso, o estúpido relator do Novo Código Florestal, o senhor Aldo Rebelo, agora é Ministro dos Esportes, e está lá, tentando "endurecer" o ministério. Mas o Código Florestal ele deixou mais frouxo. E seu partido, cada vez mais de corpo mole no meio da corrupção. O PCdoB. Partido Comunista do Brasil. Tão corrupto quanto PP, Dem, PSDB, enfim, são todos farinha do mesmo saco. O Brasil é mesmo é uma piada. É. E  ponto final.

05 novembro 2011

Sobre o Sangue

construí meu verso sobre o sangue
derramado duro na nua terra aberta
coagulado sangue seco pelo pó da enxada
que deserticamente escorre...

construí meu verso sobre o sangue
de água morta em rio derramado humano
sangue viscoso-negro entre a beira acabada
que poluidamente escorre...

construí meu verso sobre o sangue
de seiva-lágrima em derramada queda
esverdeado sangue de vastidão tombada
que devastadamente escorre...

construí meu verso sobre o sangue
do guará atropelado pelo horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas
que extintamente escorre...

meu verso é só um castelo de nada
construído nos ares de tudo que morre...

03 novembro 2011

Não Gosto de Praia

Como o verão se aproxima, e o pessoal já anda pensando em pegar uma praia, eu, que sou chato e do contra, vou republicar este poema, escrito ano passado. O poema sofreu algumas alterações, para melhor, creio eu. 

Não Gosto de Praia


não gosto de praia
da praia infestada
de vazio humano
tal praia
é a profanação do mar

busco
o oculto da sanga
entre o escuro do mato
como é escuro e oculto o destino
do que há no meu olhar...

com os restos
do sopro livre da minha alma
quero o que restou
do vento livre destes campos:
o meu peito que nada espera
busca os capões brabos
peraus de cobras
onde há mosquitos
da febre amarela

dentre as  várias
febres que me consomem
consegui me vacinar contra uma delas:
contra o homem.
por isso
meu coração é uma tapera
e irei sumir-me pelos banhados
com os mistérios
que em mim somem
liberto de tudo que não
quero me perder
por entre sapos
e berros de gavião

até que se forme
a ventania ao som de clarim
cumprir-se-á então
o que já está cumprido
do começo ao fim

02 novembro 2011

Final de Sinfonia

tudo ao mesmo tempo agora
tudo o que já foi
sendo outra vez como não foi
sendo em tons mais abaixo
entrecruzando-se em escalas mais graves
mais graves
mais baixas
a humanidade agora
é todas as humanidades
e ao mesmo tempo
ao mesmo tempo
não é humanidade alguma
é todos os ideais e todas as ideias
e sendo todas não é nenhuma
vê como tudo que foi feito
tende a ser feito outra vez agora
mas não em um após o outro
mas em um sobre o outro
convergindo e convivendo
feito de forma que se desfaz
para acabar finalmente não sendo

há de tudo hoje pelo humano mundo
mas esse tudo torna-se um nada
que não leva a mundo humano algum...

a humanidade é agora todos os seus temas
que foram a sua história
todos os temas
ao mesmo tempo agora
toda a orquestra
tudo o que já foi tocado
tudo foi tocado e nada resta
como o final de uma sinfonia
o final de uma sinfonia
tragicamente
vazia...

31 outubro 2011

Jogo de Carta

já estou acostumado
com tudo aquilo que se fecha a porta
e que mais já nem bem me importa
já estou acostumado
com tudo isso por toda parte
e todas essas passadas que passam
e que é muito cedo e que é muito tarde
já estou acostumado
com tudo aquilo que do porto parte
e mesmo nem tem bem sentido
tudo o que fique ou que falte
ou o de que um dia
eu de repente tente
ou de algum instante cante...

já estou acostumado
com tudo aquilo que daqui me aparta
que de um momento o vento...
e já nada mais me infarta...

e o raio que o parta.

28 outubro 2011

O Homem que Não Sentia (FINAL)

- Bem, mas aí tu estás levando a um ponto extremo...

- E por que não levar ao extremo? Sempre há um extremo em tudo, não? Talvez somente atingindo o extremo é que se poderá sofrer o choque necessário para que tenhamos a noção do estado em que chegamos. Um ponto máximo. Posso vir a ser este ponto máximo. Por que não? Mas não serei muito diferente do restante da humanidade. Observa bem, Renato. A grande maioria das criações humanas dos tempos atuais nos leva à mecanicidade, acaba, de um jeito ou de outro, levando-nos à mecanicidade de forma intencional ou não. Desde os computadores e a internet que nos afastam do convívio social direto, do calor do contato humano, passando pela frieza dos televisores, até atingir a qualidade da arte produzida em nossos dias, músicas mecanizantes, literatura superficial, enfim, tudo nos leva a deixar de sentir, ou, se sentirmos, é na superfície, não passa de um sentimentalismo ridículo, efêmero, que passa sem deixar verdadeiros resultados. Sem que haja qualquer modificação de fundo. Entendes o que digo?

- Sim, eu entendo, teus argumentos são legítimos, mas não acho que devemos aceitar as coisas dessa forma... Por que tu tens que cultivar essa frieza se tu a reconheces como sendo negativa, segundo se depreende do teu discurso? Melhor seria reagir.

- Reagir para quê? E de que maneira? Os que reagem são esmagados pela mecanização da sociedade. Há um padrão a ser seguido. Quem não o segue, é descartado. Mas eu não pretendo simplesmente seguir o padrão. O que eu desejo, como já disse, é extremá-lo, e jogar na cara de todos. Eu quero ser o pior. A criação mais doentia e monstruosa dessa civilização decadente.

- Meu Deus, Vagner, o que houve contigo? Eu simplesmente não sei mais o que te dizer...

- Então não me digas nada, será bem melhor assim! Estou cansado, exausto das pessoas me dizerem coisas, todas elas sempre inúteis, falsas, hipócritas, egoístas, belas palavras disfarçadas em aparentes bondades, mas apenas mais uma expressão sorridente da frieza mecânica, robótica e imbecil que se irradia como um câncer do olhar de cada ser humano. Olha no olhar dessa gente, Renato.  O que tu verás lá? Nada, apenas um vazio fétido. Cada vez que toquei na mão de cada pessoa, absorvi dela essa estúpida frieza insípida, essa morte em vida. E agora me torno a própria frieza. Em pessoa. Essa é a minha lição. Essa é a minha obra.

- Não acredito que tu sejas isso...

- Se eu te matasse, acreditarias?

- Tu não farias isso, é meu amigo... claro que não farias...

- Tens razão em uma coisa e te enganas noutra. Sim, eu não faria, mas não porque sou teu amigo, não o sou mais, não mais. Não sou amigo de ninguém, e assumo o fato. Não te mato porque isso não seria inteligente da minha parte. É óbvio que dessa forma eu iria para a cadeia. Só por isso não descarrego minha arma em ti. Mas não que seja pelo motivo de alguma afeição minha com relação a ti.

- Bem, ok, Vagner. Ainda não consigo acreditar em tudo isso, ou é uma brincadeira de mau gosto, ou tu enlouqueceste definitivamente. Mas creio que devo ir embora, acho que já estou incomodando.

- Não, incomodando não. Na verdade, tua presença pouco me importa.

- Sim, entendo. Até mais, Vagner. Só posso dizer que... sinto muito...

- É? Eu não.

27 outubro 2011

O Homem que Não Sentia


- Então pretendes te matar?

- Não, não pretendo nada, não tenho pretensão de coisa alguma, cansa-me ter qualquer tipo de pretensão. E também não faz sentido pretender alguma coisa. Eu simplesmente encontrei esta arma e pensei que poderia a usar para me matar. Mas não, não vou utilizá-la. Não comigo... Até porque não haveria nenhum significado em meu ato, eu simplesmente me mataria. E que tem isso para o mundo? Viver ou morrer, não faz diferença alguma.

- Não entendo por que tu estás dizendo isso, o que aconteceu contigo, Vagner? Tu não eras assim... Estás com algum problema?

- Não, problema nenhum, já passei da fase de ter problemas. Ter problemas é tentar solucioná-los. Quando se vê que nenhum deles tem uma solução verdadeira, eles deixam ser problemas, passam a não ser nada, mais um peso que a gente carrega, eternamente, repleto de indiferença.

- Esquecer os problemas seria a solução?

- Quem falou em esquecê-los? Eu não os esqueço, apenas não dou atenção mais a eles. Tanto faz ter um problema ou outro, ou ter mais um. Todos continuaremos sempre na mesma condição, se formos parar para analisar a questão de maneira profunda. Não faz sentido se preocupar com os problemas. Aliás, nada faz sentido na vida. Sou um homem do século XXI. O que é que faz realmente sentido para alguém hoje em dia?

- Não, assim tu também já estás exagerando. Acho que tu não estás bem. O que te levou a pensar que nada tem sentido nenhum?

- O mundo. A vida. A humanidade. Vocês. Tu mesmo. Olhem só para este mundo, olhem para vocês todos. Que coisa mais desprezível. Não acredito em nada do que vocês possam me dizer sobre qualquer coisa de vida, de sentimento, de amor. Sim, acho que não estou bem, acho que enlouqueci, depois de tentar tudo e não conseguir nada. Restou-me a descrença e a frieza totais e absolutas. Nada mais me comove. Sim, isso mesmo, como não pensei nisso antes?... Nada mais me comove. O que há de mais pós-moderno que isso? Sim, eu posso ser o espelho, não, mais que o espelho, posso ser o homem-modelo... não, melhor ainda! Posso ser o espécime máximo, o auge da evolução da espécie humana, o seu mais bem acabado e adaptado membro para os dias de hoje. Sim, não irei me matar. Vou viver, para ser o homem que não sente absolutamente nada.

- Haha! Desculpa, cara, mas isso chega a ser engraçado. Tu estás ficando louco mesmo, isso que tu estás dizendo... isso sim, não tem sentido nenhum. Um homem que não sente nada? Impossível, todos nós sentimos alguma coisa, psicologicamente falando. Temos as nossas sensações, as nossas comoções. Claro que isso difere de pessoa para pessoa, alguns sentem mais, outros menos, mas todos sentem. E tu sempre foste muito sensível.

- Isso mesmo, Renato, eu fui muito sensível. Já não sou mais. Sentir, sensiblizar-me com o que quer que seja, seja com o sofrimento de alguém, de qualquer homem ou de qualquer ser vivo, já não tem nenhum sentido para mim. Quantos aos homens, todos são maus, até mesmo as crianças, já estão cheias, repletas, transbordante de maldade e egoísmo, merecem sofrer, portanto. Por que eu faria alguma coisa para evitar ou aliviar o sofrimento delas? Que sofram, que paguem. Elas também não se importariam comigo. E presta atenção no que eu disse: eu VOU SER o espécime máximo, eu IREI representar o auge da evolução humana, SEREI o símbolo maior de nosso tempo. Isso significa que ainda não sou. Mas que posso ser, tenho tudo para ser. Pois sei que já sou quase que um completo insensível. Irei, aos poucos, deixar de sentir a mínima emoção com qualquer música, com qualquer livro, com qualquer arte, filme, com qualquer acontecimento trágico ou belo, com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo.

- Meu Deus, tu estás doente mesmo Vagner... Não posso acreditar que estejas falando sério...

- Sim, podes até rir, mas eu sei... Eu sou, ou serei, aquilo que a sociedade, que esta civilização sempre buscou, consciente ou inconscientemente. Eu fui, eu estou sendo construído, estou sendo moldado. O homem sem coração, sem alma, sem emoções, robotizado, o homem- máquina, o homem mecânico. O homem do século XXI.

Amanhã, o final do conto.

(Na imagem, o quadro "Desespero" de Edvard Munch)

26 outubro 2011

Um Absurdo

cavar todos os dias
com uma pá
sem descanso
cavar a cada instante
como se fosse adiante
cavar com o pé
o que não é
até  achar diamante
a toda hora
como se fosse embora
cavar pelo pó
com um resto de bota
sem ter espora

cavar cova tão imensa
que seja cratera
e chegue ao outro lado
e à outra era
e arrancar petróleo e ouro
quanto mais cansado
com fôlego de touro
e rubis e esmeraldas
e trazer à luz
envolvidos em grinaldas

e enfim jogar tudo aos porcos
pelos chiqueiros tortos
e partir
sem ter o nome na lista

e como um vulto
que pelo longe some
sublimemente
morrer de fome

(eis a missão do artista)

24 outubro 2011

200 anos de Franz Liszt

Anteontem, 22 de outubro, um dos mais importantes compositores da história, o húngaro Franz Liszt (1811-1886) completou 200 anos de existência. Sim, porque os grandes artistas continuam existindo mesmo depois de mortos.

Não sou propriamente um fã de Liszt, seu estilo exagerado, grandiloquente e virtuosístico (no caso das obras pianísticas) não condiz muito comigo. Sou, como todos sabem, adepto da música mais contida (mas não menos poderosa) , mais densa, mais severa de Brahms. Brahms e Liszt eram grandes rivais em suas ideias musicais. Mas isso não me impede de apreciar várias das obras do compositor húngaro.

Gosto muito dos seus poemas sinfônicos, dos quais Liszt foi o desenvolvedor e estabelecedor do gênero.Um poema sinfônico, como sugere o próprio nome, é uma obra instrumental para orquestra cujo tema ou programa é literário, baseado em alguma obra, que pode ser um poema lírico, trechos de poemas épicos, um drama... Liszt foi um grande mestre do poema sinfônico e da música programática. Desempenhou papel decisivo na evolução da música do século XIX.

A música programática, ou de programa (não, não tem nada a ver com música para cabarés) é a música escrita para expressar um programa pré-estabelecido, geralmente de caráter literário, como no caso dos poemas sinfônicos. As óperas e dramas de Wagner, a Sonata "Dante" e as Sinfonias "Dante" e "Fausto" de Liszt, os poemas sinfônicos "Romeu e Julieta", "Francesca de Rimini" de Tchaikovsky, a Sinfonia Fantástica de Berlioz são exemplos típicos de música programática. A música programática de Liszt e Wagner rivalizaram na época com a música absoluta de Brahms, aquela onde não há programa algum que a defina, uma música mais "livre" e pessoal. 

Um grande número das peças para piano de Liszt são pequenos poemas musicados. Ou poemas em forma de música. Até mesmo seus belíssimos "Estudos Transcendentais" tem um caráter extramusical. Mas aprecio mais aquelas obras de Liszt que se aproximam da música absoluta, como os concertos para piano e a sublime Sonata em si menor. Na minha opinião, nessas obras, e nos poemas sinfônicos, está o melhor de Liszt, é onde ele melhor concretiza sua grande originalidade de ritmos e estruturas, sua grandiosidade por ora luminosa, por ora bizarra e ameaçadora, a sua sugestiva criação melódica. 

Ainda não posso deixar de mencionar que Liszt era um pianista fenomenal, dizem que foi o maior de todos os tempos, que hipnotizava, enfeitiçava as plateias com as suas insanas performances ao piano, principalmente as mulheres. Aliás, Liszt estava sempre cercado de mulheres, parece que fazia muito sucesso com elas.

Bem, quem estiver interessado em conhecer obras de Liszt, pode encontrar aqui.


22 outubro 2011

De Segundo em Segundo...

...o
tempo
é um algo estranho:
dizem que pode ser marcado
por ponteiros de cobre ou de estanho...

e ele vai indo
hora por hora

de hora em hora
de hora em hora

e quando se vê
tu já foste embora...

e vai avançando
de minuto em minuto

minuto a minuto
minuto a minuto

e quando se vê
outra vez de luto...

e aquele infindável
de segundo
sobre segundo

segundo
em segundo
segundo
em segundo

e quando se vê
já não há mais mundo...

não há mais mundo
há mais mundo
mais mundo
mundo
o...

21 outubro 2011

Não, Pelo Contrário

a palavra
quando é bem dita
nunca é a que está escrita
poesia é o que não se espera dela
é o que pulsa pelo onde que não é
do outro lado de um outro além
de sombra cristalina
que não se encontra
nem aqui nem na china

a minha palavra
que agora está a te atingir
está a tingir-te de outro vinho
mais tinto
que tu não vês
a poesia é um sangue espalhado
entre o de mim
e o em vocês

surgida de onde não se quer
e daquilo que não se aceita
a poesia é o que há de mais sublime
saído da vida mais imperfeita

a poesia
é um ar que trago
mas não respiro
por isso é que errei em tudo
para acertar com  minha palavra
como se fosse um tiro